Roteiro em Salvador, inspirado em canções de
Dorival Caymmi
A próxima parada do ônibus também
remete a canções de Caymmi, pois é a vez de conhecer a Igreja Senhor do Bonfim,
imortalizada em canções como a célebre São Salvador. Esta mítica igreja, com
seu sincretismo, não conhece rivais para ilustrar a "terra do branco
mulato, a terra do preto doutor": "São Salvador, Bahia de São
Salvador. A terra do Nosso Senhor, do Nosso Senhor do Bonfim. Oh Bahia, Bahia,
cidade de São Salvador".
Passando novamente pelo Mercado Modelo,
desça, atravesse a rua, pois o roteiro prossegue em um dos cartões postais da
cidade, e que constitui o meio de transporte mais autêntico do Brasil. Sim,
isso mesmo, estamos falando, é claro, do Elevador Lacerda, tão conhecido dos
brasileiros, até mesmo daqueles que nunca pisaram em solo soteropolitano.
Porém, o que poucos sabem é que foi justamente esse elevador que trouxe o
bisavô paterno e o incomum sobrenome Caymmi da Itália para o Brasil, pois a
viagem do antecedente italiano do compositor se deu para trabalhar nos reparos
do célebre elevador. Subindo ao centro histórico, chega-se à Praça Tomé de
Sousa. De lá, caminhe em direção ao Terreiro de Jesus, passando pela Praça da
Sé (à esquerda do elevador), para encontrar algumas baianas vendendo seus
quitutes e ostentando seus vistosos adereços, os quais, imediatamente, trazem à
lembrança os versos da música que canta o encanto da baiana: "O que é que
a baiana tem? Tem bata rendada, tem! Pulseira de ouro, tem! Tem saia engomada,
tem! Sandália enfeitada, tem! Tem graça como ninguém. O que é que a baiana
tem?...". E se a fome já estiver desafinando a melodia, aproveite para
degustar o famoso vatapá que recheia o acarajé, carro-chefe dos tabuleiros
dessas baianas. A cada mordida, seu paladar recordará os versos da música que
homenageia a iguaria: "Quem quiser vatapá, ô, que procure fazer. Primeiro
o fubá, depois o dendê. Procure uma nega baiana, ô, que saiba mexer, que saiba
mexer, que saiba mexer. Bota castanha de caju, um bocadinho mais. Pimenta
malagueta, um bocadinho mais [...] Amendoim, camarão, rala um coco, na hora de
machucar. Sal com gengibre e cebola, ô iaiá, na hora de temperar.". De lá,
caminhe até o Largo do Pelourinho, e quem sabe você terá a sorte de assistir a
um dos ensaios do Olodum, como o que presenciei no último 13 de abril, quando uma
pequena formação do grupo apresentou-se nas escadarias da Fundação Casa de
Jorge Amado, tocando as composições de Caymmi, para a gravação de um
documentário televisivo sobre este baiano notável.
De volta ao ônibus, que rumará em
direção à orla, não deixe de descer e caminhar pela praia do Rio Vermelho, onde
se comemora a Festa de Iemanjá, tão aclamada na canção Dois de Fevereiro:
"Dia dois de fevereiro, dia de festa no mar. Eu quero ser o primeiro, a
saudar Iemanjá.". E de lá, inspirado pela canção Saudades de Itapoã, tome
um táxi para passar o final de tarde na praça que homenageia o compositor, ou
ainda, na praia que inspirou os versos "Coqueiro de Itapoã, coqueiro.
Areia de Itapoã, areia. Morena de Itapoã, morena. Saudade de Itapoã me deixa".
E, a propósito de saudade, você chegará, assim, ao fim do roteiro, e talvez já
comece a ouvir os melancólicos versos de outra famosa música ecoar em sua
deleitada mente: "Ai, ai que saudade eu tenho da Bahia...".
E você, que está lendo este roteiro, alguma vez idealizou uma viagem
baseada numa música? Caso isso tenha acontecido, não se acanhe, entre em
contato conosco e, se tiver interesse, sinta-se convidado a participar de uma
aula de Roteiros Turísticos, matéria que consiste em uma informal oficina, em
que nossos alunos discutem, entre outros temas, os roteiros que elaboraram a
partir de músicas que já encantaram nossos ouvidos e que, numa inesquecível
viagem, podem também embalar os demais sentidos.
Claudia Astorino
O texto não é de vocês, como posso avaliar?
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